domingo, 31 de julho de 2016

As vezes eu tenho a impressão de que as coisas não estão realmente acontecendo. Que se eu olhar pela janela agora, num instante mais rápido que um piscar de olhos, o grande olho vai estar observando. E ele constantemente está. Mas tudo isso não passa duma introspecção sem valor nenhum. Afinal, eu sangro. E as vezes a gente se esquece disso. Nenhum monologo faz sentido se você está realmente sozinho. As palavras rebatem na parede e deixam você lento, com o olhar distante. Lendo uma página do mundo em língua ininteligível e irracional. Aquele momento de loucura lucida separado pela mesma linha tênue que distingue uma noite de luar de junho do som dos pássaros pela manhã.

De todo instante vivido se vale o lirismo nos momentos de transformação. A nova poesia é estiagem morta encharcada com novos souvenires. É como o inverno chegando a todo momento durante o outono, que por sua vez lembra o perecer das estações vivas do verão e da primavera. Que as mudanças carregam lembranças de um presente morto, não há dúvida.

Em novos tempos, o relógio dos velhos desperta adiantado.
em noites enevoadas
no boqueirao
paisagens transformam-se em sombras e vibrações
enquanto o acelerado compasso do coração enfermo
pulsa como se fosse a última vez!

um traço...
um risco -!
ou outro vulto meio torto,
impulsionam a velocidade de meus movimentos.

não sei o que encontrarei a minha frente
tenho medo e quando decido não voltar
minha marcha torna-se aos poucos funebre
e o estomago acido
desvia o olhar afiado.

mas olhar para trás: jamais!
infesto o véu da noite
com a dança funesta de meus passos
mas olhar para trás nunca!
 todos sabem
que para trás
deixamos tudo que tinha de passar.