terça-feira, 25 de agosto de 2015

Pobre era de dinheiro, o pequeno Miguel, e rico o era de solidão. Sempre sentado as margens do roto rio Belem, cercava-se da amizade de pálidos objetos zumbi e usufruia apenas da companhia de suas lombrigas. Infinitas lombrigas, que nadavam dentro de sua imensa barriga dagua em sincronismo asco de fome amarela.
7 anos, negro, miseravel e desgraçado, cabelo sujo raspado de textura pegajosa, Miguel brincava, de pés descalsos, as margens de seu cumplice. Profano rio de merda marrom na Terra e sagrado veu branco no ceu era a pintura que arrastava aquela vagarosa tarde de Julho.
Miguel de ferias, brincava de Prometeu torturando um pequeno rato, o empurrando de volta ao lodo sufocante sempre que o pequeno clamava piedade e tentava voltar para a margem segura.
De repente, os olhos de Miguel pescam uma interessante figura sendo carregada pela correnteza do rio. Menina desistida da vida, boiava viva ou morta apoiada em lixo e consolo. Passando pelo garoto, que a fitava e sentia misto de surpresa e indiferença, causou irritação no pequeno menino que nao sabia o que fazer diante de tal situação.
De cima da ponte acompanho, invisivel para Miguel, os ultimos suspiros do rato. E quando da vista a menina se perde junto com a graça da brincadeira, ele se levanta, tenta dar uma ultima olhada na garota e vira as costas para o sinistro museu morto de sua vida. Assim, segue para casa contar a seus irmãos sobre a ratazana do rio.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

"a 10 reais
o molho de pimenta
vem em 4 caixas
com 2 duzias de morango cada"

a lava que sobe pelo esôfago
é a mesma gasolina
dos tanques de combustivel
que queimam restos de
dinossauros

rugidos viscerais
correm pela minha garganta
em elevadores mesozoicos

na mesa poucas luzes
iluminam de enviazado
o segredo de contar estrelas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

mortin mortin

tento remontar os fatos em minha cabeça
mas nao consigo.

o chao todo alagado
vazamento nas paredes
nenhum movel na casa

o piso foi substituido
por um chao de submarino
irreconhecivel
tomado de pinturas rupestres
feitas das manchas de bebidas
cinzas de cigarro
memorias arrependidas

que desmoronam do passado
como torres gemeas esguichando gritos de horror
atravessando o piso
com calor de lava.

me ausentar uns dias
fechado
recitando apenas para mim mesmo

nao deveria me dar tanto prejuizo mas agora
o mofo cresce sob o espectro da alegria do ontem
no comodo que antes costumava ser a cozinha.

a ponta de todos os meus dedos doi
e aparecem na ponta do sapato
os olhos todos
todos aqueles olhos de morcegos sangue sugas
com suas presas dentes de sabre arabe
todos a espreita torcendo que eu entrasse num beco escuro
para que pudessem sugar meu sangue como vampiros
em plena luz do dia.

mas nao!
correram de minhas estacas!

retomando a lembrança
saindo da caixa escura
chego ao quarto
onde a unica coisa que sobrou
foi uma comoda
onde guardava as meias sempre sujas
e despareadas

uma tv quebrada
passa chiando
uma lembrança travada.
cinco segundos de um assassinato
a caminhada até a vitima com punhal em maos
me faz lembrar de todos os fatos

torço para que tudo desmorone
mas nao vai.
amanha
vai tudo continuar fedendo aqui dentro

vermes da decomposição
atemporais

ó deus
onde foi que deixei meu caixao

ó morte
leva-me uma segunda vez!

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

coordenadas abissais de um sabado a tarde

entrelaçam-se em minhas entranhas
os ventos derradeiros desta tarde de fim de inverno
quando o sol me esquenta na medida certa
depois de uma faminta manha

os ombros pelados de outrora
escondem-se agora em sonhos
de infinitas distancias
repousando frios e macios
atras de relva rasa

alice atrasada chega para o chá
e atrasada alice chega pra la
pois o intempere couro dos bisoes do tibet
desgasta e pinica

doce ruim com cara de porcelana
a maça verde e gorda
dança em poesia pra cá e pra lá
como concha nas ondas do mar

o vitral da memoria desgasta com o tempo.
a vida perece sobre o tecido desta plenitude toda
de apenas 3 horas

inventar o jogo do bate e rebate
de uns pés inchados pra cá e para la
descalços sujos
tem agora a ver com seus olhos desgrudando dos meus
e subindo por todas as paredes

que ainda ecoam 
as vozes de teu riso
e o sal do teu mar
de teus olhos escorridos
de yin e yang

mas para toda poetica descabida
é necessario lembrar
que em todo poço sem fundo
jaz um alçapão;

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

para la com os romanticos que descem ao inferno em bungee jumps suicidas lambendo o suvaco de persefone depois de todos os satiros quicarem machadadas em suas almas