sábado, 25 de julho de 2015

luzes das 3 horas

Aqui bate sol uma vez por dia. Mais precisamente quando a janela do quinto andar do prédio do outro lado da rua está fechada, e quando o céu está limpo em Curitiba entre as 14:50 e 15:00.

Ainda por cima, quando a luz solar, que na verdade é a luz vinda da janela do outro prédio, consegue atravessar a vitrine suja da loja onde eu trabalho, ela chega em forma de quadrados e retângulos. É engraçado, quando não tem sol eu tenho que ligar as luzes la de trás, e tudo ganha o mesmo tom branco artificial. Hoje com esse sol, a luz da lampada fica fraca e da espaço pra vida trazida pela iluminação na poeira toda, tudo ganha uma historia e um ar de aposentado. Ganha um ar de deposito de coisas esquecidas, que pendem sempre para tons de beje. Os livros com as paginas lidas centenas e centenas de vezes, agora leem a si mesmos em voz alta, e a historia que eles contam não é a dos autores. Os livros mais chatos são os que ganham as melhores historias. Os filmes desarrumados empilhados em desordem caótica, expõem o descaso e a ingratidão com que foram assistidos e jogados de lado, mas ainda saúdam, na memoria, os sorrisos e as lagrimas de quem os viu. Os encartes dos filmes, rabugentos, destroem a si mesmos abrigando mofo, mas no final, é porque não aceitam a solidão. As mesas, a muito sem sentirem o cheiro de café fresco, de empadinha de palmito, de quindim, dormem e dormem muito, mas quase acordam quando a luz ilumina a poeira em cima delas.

São 15:05. O Sol acabou de terminar a visita. Depois de ouvir as varias historias em deleite, de parar e pensar sobre os anos sobre as horas, num tempo que parece ter passado horas e horas, relembro com prazer e frio, as historias que essa luz das 3 veio trazer.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

AI DE MIM, AI DE MIM

tome
e toma direito
pois em teu ser
nasce a sem vergonha persona
de declamar os versos
como sempre os teve.

diante da sapataria
de teus enganos
atravessou a rua e escreveu em tabuletas
o nome daquelas personas
que dia apos outro
nao significaram nada

e morreram diante de teu amago
diante de teus olhos
enegrecidos
pela simplicidade
de teus pais

obscuros olhos
que olham pra dentro das sombras
e acham luz
saida dos bosques

acende teu cigarro
e recosta-te em tua cadeira

amanha de manha
pensara sobre como nao tens
a vida em teus braços

como amamenta tua cegueira!
e tateara
desejando encontrar o langor de teu corpo
como roupa que veste a alma
fumando um charuto na esquina
em frente a casa de dalva

verde e singela
repousando a luz de vela
com'uma cama de hospital

sexta-feira, 17 de julho de 2015

vic

de manhã
poe o chapéu sem cor
escondendo a sujeira e o couro cabeludo semi careca gasto.

a ereção robotizada
dita o norte do novo dia
de mais um novo dia.

o que eu pago
pra dançar um tango
pra dançar na cama
num livro virtual
com dez anas
todas dizendo que me amam
nao sao
os 20 pratas
que eu pago
pra uma prostituta barata
chupar meus mamilos
e me tocar uma bronha

no apartamento dela tinha um cachorro
esqueletico e vira lata
devia ser viciado na droga toda
que era a vida da dona

no apartamento
os blackouts empoeirados
davam uma impressao de
um mausoleu em decadencia
e nao deixavam
muita luz entrar

depois
quando chegou perto da janela
a cara iluminada

a pele suada
os seios da face oleosos
caindo ao longo do rosto
em forma de grandes olheiras
me presentearam um sorriso desagradável e um cigarro
que gritava,
e eu gostava do que dizia,
do que pedia.

das escadas circulares
dou de cara com a vida
que penetra minha cabeça
pelos olhos
com morbidez ja conhecida

andando
um mendigo me pede dinheiro
e quando recuso
pragueja e me amaldiçoa

penso que fosse o diabo
imitando deus outra vez
lembro do cachorro da puta.

em frente
a minha padaria preferida
em um banco de cimento com um papel na mao
senta-se deprimida
uma figura semi esquecida

os olhos marejados
proclamando minha independencia
depois de tanto tempo cultivando
certa demencia.

sorrio por dentro

me afasto e
o cimento se mistura ao resto
e petrificada a deixo para tras.

nada
pro tango da ana
20 pratas
pro bebe nanar.

nada de pao pro café.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Tela laranja
por onde a imaginação
escorre a cena

o movimento da cabeça do camaleao
atado a 4 cantos
inunda-se de cores
e me encara com olhos fundos
negros.
sem cor.

cactus verde 
cresce 
paralelo

o filho prodigo retorna em direção a mãe quimera

o tentaculo vai a boca
e os olhos giram em espiral
como numa escada rolante

desliza a paisagem
borra as linhas tortas
os traços do diario ja nem sao mais retos
sao curvas que sobem e descem
vem e voltam
vem e voltam
vem
e voltam;